domingo, 11 de janeiro de 2009

Gordura, sexo e vida

Li estes dias três artigos que me despertaram interesses semelhantes, um no Estadão do biólogo Fernando Reinach discutindo a relação entre gordura, reprodução e longevidade, outro na Piauí do neurologista Oliver Sacks contando sobre os estudos botânicos de Darwin e o último na veja.com.br da geneticista Mayana Zatz discutindo o porque do sexo.

 

A natureza é sábia. Parece que nela tudo tem sua razão de ser, um objetivo claro, nada existe sem finalidade específica. Para Darwin os objetivos eram imediatos, a estrutura interna de uma flor guardaria relação direta com os insetos polinizadores, suas cores serviriam para atrair determinadas abelhas, seus cheiros atrairiam mariposas, etc. Tudo selecionado através de milhares de mudanças e adaptações mínimas ocorridas ao longo dos séculos.

 

Meio na base da tentativa e erro. As flores que alterassem sua estrutura de modo a impedir a polinização pela única borboleta disponível na região, simplesmente desapareceriam por falta de polinizadores. Ao contrário a flor que, com seu cheiro de carne podre, conseguir atrair mais moscas garantiria sua sobrevivência.

 

A preservação da espécie, a sobrevida dos genes do indivíduo talvez seja a única função, a única justificativa, o objetivo, o sentido da vida. Assim tudo que se construiu ou criou ao longo da existência pode ser apenas passa-tempo ou estratégia para aumentar nossas chances de perpetuação genética.

 

A Quinta Sinfonia de Beethoven, um quadro de Van Gogh, a Esfinge do Egito, a viagem à Lua, ficar milionário, por silicone nos seios, escalar o Everest, comprar uma Ferrari, emagrecer, estudar, trabalhar, tudo, sem exceção, seria apenas para melhorar nossas chances de reproduzir nossos genes. Truques para melhorar nosso poder de sedução.

 

A absoluta falta de gordura feminina dificulta a reprodução entre os animais. As vacas só entram no cio quando estão ganhando peso. Já se sabia que “o leite entra pela boca”, recentemente descobrimos que o cio também. Se a mãe estiver muito magra, muito fraca, ela pode não suportar a perda de nutrientes em uma gestação, nem garantirá a amamentação do filhote mamífero. Ao contrário algumas plantas ao sofrerem déficit severo de algum nutriente emitem frutos (sementes reprodutivas) pouco antes de morrer.

 

Tudo parte de uma tática de sobrevivência. Uma nova ciência, uma “biofilosofia” estratégica ou teleológica será capaz de explicar melhor todos os atos dos seres vivos. Plantas, bichos e humanos. Nada de orientações espirituais, apenas sobrevivência genética.

 

A falta de gordura por outro lado favorece a longevidade, isto é fato aceito pelo senso comum. Mas porque? A macrobiótica pode ser descrita como a alimentação que visa a longa vida, nunca vi um gordo adepto da macrobiótica. Falta de nutriente ou falta de sabores atrativos? Perder peso é recomendação médica generalizada para a boa saúde, para a macrovida. A gordura seria ruim para a vida, mas boa para a reprodução. Gordura em excesso não, a obesidade não existe na natureza selvagem.

Para compensar a menor capacidade de multiplicação de seus genes a sábia mãe natureza deu um prêmio aos magros, a longevidade.