Várias pessoas, alguns amigos, explicam que
deixaram de comer carne para evitar ou diminuir o desmatamento. Argumentam que para
produzir carne é preciso desmatar para plantar pasto e criar bovinos.
Corretíssimo tal raciocínio. Louvo este
espírito de sacrifício em favor da preservação da natureza. Agradeço
sinceramente pelo esforço.
No gráfico abaixo resumo a forma como
ocupamos as terras no Brasil. A Amazônia ocupa pouco mais de 40 % do país e as
pastagens (naturais + plantadas) ocupam cerca de 24 % do todo.
É interessante notar que as cidades
correspondem à mesma superfície das lavouras (anuais + permanentes) ou a cerca
de 30 % da área em pastagens ou ainda à mesma quantidade de áreas protegidas
por lei (parques nacionais, reservas e assemelhados).
Voltando à idéia inicial de evitar o consumo
de carne com o objetivo de preservar nossas florestas acho que tais amigos, tão
abnegados, já podem planejar o próximo degrau a subir em favor da preservação.
Sugiro alguns.
Arroz, feijão, milho, soja e trigo, entre
outros alimentos não carnais, também são produzidos de forma extensiva em áreas
onde antes havia floresta ou outra vegetação natural também digna de preservação.
Assim, como um dos próximos degraus, sugiro que se evite o consumo destes e de
seus derivados. Lembro que as frutas e hortaliças, embora não citadas, merecem
o mesmo tratamento pois são igualmente responsáveis pela extinção de algumas
matas.
Quanto à forma de morar, sugiro aos meus
nobres amigos outro degrau, que se evite construções em alvenaria, estas
consomem grande quantidade de areia extraídas geralmente nas margens dos rios
ou em áreas que deveriam ser APP (Área de Preservação Permanente). As
alvenarias geralmente ainda usam cimento e cal, ambos produtos não renováveis extraídos
das rochas que ocorrem na nossa amada natureza. Já que citei rochas lembro que
se deve evitar radicalmente todo tipo de pedra natural pois são não renováveis,
tais como mármore, granito, ardósia, ... e até a tradicional pedra-de-são-tomé.
Claro que também se deve evitar os tijolos e telhas de barro já que os locais
de onde a matéria prima é retirada, a argila, tornam-se verdadeiras crateras
irrecuperáveis. Telhas de cimento-amianto não recomendo devido às suas
características prejudiciais à saúde dos trabalhadores durante a fase de
processamento. As telhas metálicas, também originárias de minérios não
renováveis, demandam grande quantidade de energia em sua fabricação, devem ser
sumariamente abolidas.
Longe de mim induzir alguém a construir suas
casas com madeira, mesmo que oriunda de florestas plantadas, a produção de
madeira sempre ocupará ou destruirá alguma vegetação natural que deveria ser
preservada. Por falar em madeira lembro que papel é feito de madeira, portanto
deve-se eliminar o uso de papéis, mesmo os ditos higiênicos. Todos antes foram
árvores.
Quanto à vestimenta, sugiro evitar, por óbvio,
o uso da seda, seria uma exploração absurda da pobre mariposa bicho-da-seda. Também
porque ela come folhas de lavouras permanentes de amoreiras. Claro que o
algodão ocupa extensa área no Brasil, onde deveria ser floresta exuberantemente
preservada, assim sugiro evitar toda forma de calças, camisetas, camisas,
vestidos, etc., de algodão. O mesmo para o linho, sisal, cânhamo, etc.
Evidentemente que outro degrau a ser galgado
deverá ser o relativo ao transporte, se não comemos carne por causa das
pastagens fica claro que devemos eliminar o uso da tração animal, mesmo porque
os animais não são culpados de nada, porque condená-los a trabalhos forçados
apenas para nosso conforto. Deixando os animais sobram as máquinas, mas estas,
ainda não inventaram o moto-contínuo, insistem em consumir energia com avidez.
Os derivados de petróleo, por serem não renováveis, não podem ser cogitados. A
madeira e o carvão evidentemente estão fora de questão. Energia nuclear gera
resíduos com os quais ainda não sabemos o que fazer, não sabemos reutilizá-los,
nem como estocá-los com segurança. Os combustíveis renováveis como álcool ou
bio-diesel devem ser vistos da mesma forma que as lavouras de alimentos, ocupam
áreas de florestas.
Falando de energias lembro que a eletricidade
é uma forma de energia que ou demanda algum combustível fóssil (petróleo ou
coisa parecida), ou urânio sobre o que já conversamos, ou demanda o
represamento das águas de rios que deveriam permanecer livres para todo o
sempre. Com o agravante de que os reservatórios em geral eliminam toda
vegetação natural das baixadas, geralmente APP. Às vezes ainda expulsam alguma
população ribeirinha tradicional ou até índios. A fantástica eletricidade, tão
útil, aquece o banho, ilumina a noite, pode deslocar nossos automóveis, faz
funcionar meu computador, a incrível eletricidade usa em média quase dois mil
litros de água para manter acesa por uma única hora uma única lâmpada de
singelos 60 watts. Uma família comum usa duzentos milhões de litros de água por
ano apenas para manter em funcionamento uma casa simples.