quarta-feira, 20 de maio de 2009

Acertos e erros

Nesta semana o site O Eco publicou um artigo sobre pastagens sombreadas, comuns na Espanha e Portugal. É um belo artigo, carregado de emoção, carregado de acertos.
Acerta quando é específico, quando responsabiliza o governo que aí está pela destruição ambiental do cerrado e da Amazônia.
Mas corre o risco de errar quando generaliza.
Também corre risco de errar quando mistura produtores rurais com grileiros, escravocratas e políticos seguidores de Maquiavel.
Ao criticar como “patética” a produtividade de “uma vaca/ha/ano” corre o risco de ser interpretado como defensor das criações confinadas. Foram estas criações de alta densidade por área que deram origem ao mal da vaca louca, à gripe aviária e talvez à recente gripe suína. Muito bicho em pouco espaço é antiecológico, veja o que acontece nas grandes cidades.
Acerta na mosca quando especifica os bancos oficiais como grande responsáveis pela “desgraceira” ambiental, apenas esquece de citar que eles apenas cumpriam ordens governamentais e os ambientalistas de então (30 ou 40 anos atrás) nada diziam.
A primeira generalização com alto risco de erro é a sugestão do modelo espanhol/português, sabe-se que 500 mm de chuva por ano podem ser suficientes se bem distribuídos, se a temperatura for amena, se os ventos forem suaves, se o solo for profundo e fértil, se ... e se ... Mas certamente lembramos que muito menos que 500 mm num único mês destruiu parte de Santa Catarina. A quantidade de chuva não basta para se pensar em extrapolar modelos europeus para cá. É preciso muito mais conhecimento, muito mais experimentação, muito mais cautela.
No Brasil há uns 40 anos surgiu a idéia de corrigir o solo do cerrado, região plana de solos pouco férteis, com o uso de calcário e fosfato. Deu certo, o capim braquiária e a soja estão lá. O preço da carne bovina no Brasil, muito menor que na Espanha, também prova que era e é economicamente viável. Naquela ocasião os ambientalistas não gritaram. Não sabiam? Como poderiam saber os pecuaristas? Talvez ao preço da carne européia as vaquinhas brasileiras também possam ter pastagens sombreadas.
Naquela época, 40 anos atrás, grandes empresas que hoje se definem como preocupadas com o meio ambiente se aproveitaram das vantagens fiscais e de crédito. A VW implantou a maior fazenda de pecuária do mundo, a Vale do Rio Cristalino, com quase 140.000 ha e foi acusada do maior incêndio florestal que a Nasa já havia detectado. As fazendas da VW e do Bradesco foram acusadas de uso de trabalho escravo. Tudo acabou em pizza, ninguém foi preso ou multado. Mas a fama sobrou para o “pecuarista”.
Aí a segunda generalização perigosa: misturar espertalhões com pecuaristas. Grande parte da destruição do cerrado nativo ou da Amazônia atual é ação de grandes empresas que se metem a “pecuaristas”. O pecuarista tradicional, aquele que está há 40 ou 50 anos no negócio, não conhece teoria ecológica mas está se sustentando há tempos, caso contrário não seria tradicional. No Brasil do empreendedorismo atual 70 ou 80 % das novas empresas fecham suas portas antes de 2 ou 3 anos de vida. Isto sim é falta de sustentabilidade.
O tal conforto das vaquinhas felizes custa caro, a recuperação das tais pastagens degradadas custa caro. A relação economia e ecologia é estudada apenas recentemente mas é intuitiva para os empresários que se sustentaram ao longo de décadas de trabalho.
Resta saber se o consumidor brasileiro quer e pode pagar por isto.
É ele quem manda.

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