sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Bernardo e Heckel

Não tive a honra de conhecer pessoalmente o alpinista Bernardo Collares Arantes, acidentado em 03.01.2011 no Fitz Roy, dificílima montanha da Patagônia argentina. Um dos mais, senão o mais importante montanhista brasileiro.
Bernardo e eu fomos “estrangeiros” no Rio, ele mineiro, eu goiano, ambos fomos guias do CEC – Clube Excursionista Carioca, ele nos anos 90, eu no início dos 70, ele fez várias conquistas no Rio, eu apenas duas. Trocávamos mensagens por email, depois pelo Orkut e mais tarde pelo Facebook. Muitíssimo mais hábil e experiente que eu, recebi dele várias orientações. Sempre simpático e solícito, era um prazer “conversar” com ele.
Escalar o Fitz Roy é tarefa árdua, que raríssimos esportistas estão aptos a tentar. São vias de 2.000 metros, verticais, em condições meteorológicas muitíssimo adversas. Por isto a impossibilidade de resgate em tempo hábil. Os próprios Bernardo e Kika já tentaram sem sucesso o Fitz outras vezes. É muito difícil subir até onde ele está.
Dentre os esportistas atuais Bernardo era puro, amador, escalava sem patrocínios, por prazer.

Em 25.06.2010 o alpinismo carioca perdeu outra de suas grandes figuras, Heckel Capucci Bastos, pioneiro do montanhismo, conquistador de grandes paredes no Rio e no Espírito Santo. Inquieto inventou, criou, projetou, fabricou o primeiro trike brasileiro, a primeira asa delta motorizada brasileira. Morreu a bordo de sua criação. Era instrutor de vôo e vendedor de seu invento. Caiu na praia, na Barra da Tijuca.
Heckel foi meu colega de engenharia na PUC-RJ, ele me iniciou no alpinismo, me levou ao CEC em Copacabana quando estava em curso a mais especial junção de alunos de escola de guias de montanha, eram as crianças, menores de idade, Rodolfo, Penacho, Rogério e Zé Carlos, criadores e revolucionários do esporte de montanha.

A vida nos impõe obstáculos e dificuldades, felizes são aqueles que não aceitam tais imposições e escolhem suas próprias dificuldades e desafios.
Dizia meu pai que “quem passou pela vida em brancas nuvens, foi espectro de homem, não foi homem, passou pela vida, não viveu.”

Bernardo e Heckel viveram intensamente.
Morreram fazendo ou tentando fazer aquilo que lhes dava mais emoção e prazer, escalando ou voando.
Nas alturas, perto do céu.

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