Evolução do volume acumulado no sistema
Cantareira em HM3 (milhões de m3).
O
biólogo Fernando Reinach publicou hoje (27/09/2014) no jornal O Estado de São
Paulo uma análise sombria sobre as possibilidades de falta de água no Sistema
Cantareira, o principal manancial de água para a Grande São Paulo.
No
gráfico acima cada linha vertical corresponde a um ano, a linha vermelha
representa a quantidade água acumulada no sistema, varia de zero a 1.460 milhões
de metros cúbicos, situação na qual todos os reservatórios estariam totalmente
cheios. A linha horizontal tracejada representa o limite entre o que pode ser
retirado por gravidade, abaixo do qual está o volume “morto” que só pode ser
aproveitado pelo uso de bombas.
Segundo
ele nos últimos 33 anos o volume total de água sempre variou muito, aumenta no
início do ano (época das chuvas) e diminui no segundo semestre (seca). Em
alguns anos o consumo é igual à entrada de água no sistema (1999), em outros a
entrada é maior (1987). Nos últimos anos a entrada tem sido menor que o consumo.
Em 2013 a queda foi significativa, houve um pequeno acréscimo no início do ano,
mas terminou com um dos menores acumulados dos últimos 33 anos. Em 2014, ano de
seca atípica em todo sudeste brasileiro, nem houve acréscimo inicial e agora o
volume já está abaixo do limite entre “morto” e “vivo”.
A
pergunta que Fernando levanta é o que acontecerá em 2015 se as chuvas forem parecidas
com 2014?
Difícil
resposta. Assustadora possibilidade de milhões de pessoas sem água. Simplesmente
isto: a Grande São Paulo, a maior cidade do Brasil, sem água.
No
gráfico do Fernando separei quatro períodos iniciados após as principais baixas
de volume e adicionei as linhas azuis como sendo uma aproximação das tendências
de cada período.
O
primeiro período de 5 anos entre 1982 e 1987 inicia com uma forte variação do
acumulado no primeiro ano e uma tendência de queda nos outros quatro anos.
O
segundo período de 8 anos entre 1987 e 1995 inicia após enorme reposição de
água no primeiro ano e segue com tendência de queda suave mas constante em
todos anos.
O
terceiro período de 9 anos entre 1985 e 2004 também inicia com grande
recuperação do volume de água disponível em um único ano e segue com tendência de
queda mais acentuada e com variações mais significativas nos anos seguintes.
O
quarto período de 11 anos, o atual, de 2004 a 2015 é diferente, pode ser
dividido em dois sub-períodos de 2004 a 2010, onde houve uma recuperação do
volume de água de distribuída em vários anos, e de 2010 a 2015 onde, após
atingir o máximo volume acumulado nestes últimos 33 anos, há uma clara
tendência de queda, mais forte que antes e gravemente acentuada em 2013/2014.
Levanto
as seguintes hipóteses:
1 –
Estaríamos no meio de uma mudança climática? Por isto o quarto período é
atípico? Por isto a recuperação não se deu em um único ano? Por isto uma queda
tão forte em dois anos consecutivos? Por isto nenhuma recuperação da água acumulada
em 2014?
2 –
Ou simplesmente o consumo aumentou mais que a capacidade dos mananciais, as
perdas, os roubos e os vazamentos de água se descontrolaram e a reutilização da
água mais uma vez adiada, tudo isto junto com uma seca atípica está nos levando
ao caos?
3 –
Ou ainda, hipótese rósea, estaríamos no limiar de um novo período de
recuperação dos volumes da água acumulada? Estaríamos no início da época de
chuvas mais fortes (espero que sem inundações e deslizamentos) suficientes para
novamente acumular água no Sistema Cantareira?
Só Deus sabe.
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