sábado, 27 de setembro de 2014

Água em São Paulo


Evolução do volume acumulado no sistema Cantareira em HM3 (milhões de m3).

O biólogo Fernando Reinach publicou hoje (27/09/2014) no jornal O Estado de São Paulo uma análise sombria sobre as possibilidades de falta de água no Sistema Cantareira, o principal manancial de água para a Grande São Paulo.
No gráfico acima cada linha vertical corresponde a um ano, a linha vermelha representa a quantidade água acumulada no sistema, varia de zero a 1.460 milhões de metros cúbicos, situação na qual todos os reservatórios estariam totalmente cheios. A linha horizontal tracejada representa o limite entre o que pode ser retirado por gravidade, abaixo do qual está o volume “morto” que só pode ser aproveitado pelo uso de bombas.
Segundo ele nos últimos 33 anos o volume total de água sempre variou muito, aumenta no início do ano (época das chuvas) e diminui no segundo semestre (seca). Em alguns anos o consumo é igual à entrada de água no sistema (1999), em outros a entrada é maior (1987). Nos últimos anos a entrada tem sido menor que o consumo. Em 2013 a queda foi significativa, houve um pequeno acréscimo no início do ano, mas terminou com um dos menores acumulados dos últimos 33 anos. Em 2014, ano de seca atípica em todo sudeste brasileiro, nem houve acréscimo inicial e agora o volume já está abaixo do limite entre “morto” e “vivo”.
A pergunta que Fernando levanta é o que acontecerá em 2015 se as chuvas forem parecidas com 2014?
Difícil resposta. Assustadora possibilidade de milhões de pessoas sem água. Simplesmente isto: a Grande São Paulo, a maior cidade do Brasil, sem água.

No gráfico do Fernando separei quatro períodos iniciados após as principais baixas de volume e adicionei as linhas azuis como sendo uma aproximação das tendências de cada período.
O primeiro período de 5 anos entre 1982 e 1987 inicia com uma forte variação do acumulado no primeiro ano e uma tendência de queda nos outros quatro anos.
O segundo período de 8 anos entre 1987 e 1995 inicia após enorme reposição de água no primeiro ano e segue com tendência de queda suave mas constante em todos anos.
O terceiro período de 9 anos entre 1985 e 2004 também inicia com grande recuperação do volume de água disponível em um único ano e segue com tendência de queda mais acentuada e com variações mais significativas nos anos seguintes.
O quarto período de 11 anos, o atual, de 2004 a 2015 é diferente, pode ser dividido em dois sub-períodos de 2004 a 2010, onde houve uma recuperação do volume de água de distribuída em vários anos, e de 2010 a 2015 onde, após atingir o máximo volume acumulado nestes últimos 33 anos, há uma clara tendência de queda, mais forte que antes e gravemente acentuada em 2013/2014.
Levanto as seguintes hipóteses:
1 – Estaríamos no meio de uma mudança climática? Por isto o quarto período é atípico? Por isto a recuperação não se deu em um único ano? Por isto uma queda tão forte em dois anos consecutivos? Por isto nenhuma recuperação da água acumulada em 2014?
2 – Ou simplesmente o consumo aumentou mais que a capacidade dos mananciais, as perdas, os roubos e os vazamentos de água se descontrolaram e a reutilização da água mais uma vez adiada, tudo isto junto com uma seca atípica está nos levando ao caos?
3 – Ou ainda, hipótese rósea, estaríamos no limiar de um novo período de recuperação dos volumes da água acumulada? Estaríamos no início da época de chuvas mais fortes (espero que sem inundações e deslizamentos) suficientes para novamente acumular água no Sistema Cantareira?
Só Deus sabe.

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